São Paulo, Ano de 2008
Dona Severina acordou com o grito da filha. “Mãe tá entrando água em casa”. A idade parecia não ter chegado, no momento em que saltou da cama, batendo com os pés dentro d´agua. Faltavam dois dedos para a enchente cobrir o colchão.
Mas a lema que dava nas suas canelas, rapidamente subiu para suas coxas flácidas. Dona Severina tentava desesperadamente, tentando salvar o que dava. Os sapatos, a mochila do neto, a escova de dente. Não! Caiu. A roupa de a minha filha ir trabalhar amanhã.
Aquela não era a primeira vez, os documentos estavam no auto do armário, prevenidos. Os alimentos não tiveram a mesma sorte. Mas com tudo na vida, a enchente passa e deixa seus rastros de lama e lixo, vindo do fétido esgoto.
Pegou um banquinho de madeira, que após flutuar, foi deixado estirado no chão.
Sentou e chorou.
Estávamos ali sentados, na mesma casa, três anos depois. Aquela mesma Severina contava para nós sua história. Ainda avia vestígios da enchente. Meus amigos preparavam a câmera para a filmagem, enquanto eu ia conversando com aquela pobre senhora.